Imagem que compara o clima e o saneamento, destacando a importância da interação entre meio ambiente e infraestrutura urbana. Vista de uma cidade ao fundo com vegetação no primeiro plano.

Mudanças climáticas afetam o acesso à água potável

Já pensou em como as mudanças climáticas afetam o acesso à água potável? De que forma elas estão ligadas ao saneamento básico? Embora o tema frequentemente apareça relacionado a derretimento de geleiras ou espécies em extinção, os impactos no acesso à água potável e esgotamento sanitário são igualmente urgentes. 

Tempestades intensas, secas prolongadas e ondas de calor já não são mais cenários de filmes catastróficos – são realidades que desafiam a infraestrutura de saneamento em todo o mundo, inclusive no Brasil

A seguir, vamos explorar o impacto das mudanças climáticas no saneamento, entender os riscos para a saúde pública e descobrir o que pode ser feito para mitigar essa crise.

Como as mudanças climáticas afetam o acesso à água potável

A água é um recurso finito, e o aquecimento global está acelerando sua escassez. Segundo o relatório do Instituto Trata Brasil, eventos como secas extremas reduzem a disponibilidade de água em reservatórios, enquanto chuvas torrenciais contaminam mananciais com sedimentos e poluentes.

Isso significa que, mesmo em regiões tradicionalmente úmidas, como o sudeste brasileiro, a qualidade e a quantidade de água disponível para tratamento estão em risco.  

Além disso, o aumento da temperatura global favorece a proliferação de algas tóxicas em rios e lagos, elevando os custos de tratamento. Para comunidades carentes, que já sofrem com a falta de saneamento básico, essa combinação é devastadora.

Um exemplo recente é a crise hídrica no Rio Grande do Sul em 2023, onde enchentes danificaram estações de tratamento, deixando milhares sem água potável por semanas.

Tempestades e Enchentes: ameaças à infraestrutura de saneamento

Imagine uma cidade onde o sistema de esgoto entope com frequência após chuvas fortes. Esse cenário é cada vez mais comum, graças ao aumento da frequência de tempestades causado pelas mudanças climáticas.

Quando a infraestrutura de drenagem e esgotamento sanitário não é dimensionada para volumes extremos de chuva, o resultado é o transbordamento de esgoto não tratado para ruas e rios – um risco direto à saúde pública.  

O relatório do Trata Brasil destaca que 40% das cidades brasileiras já registram problemas de transbordamento de esgoto durante eventos climáticos extremos.

Em áreas costeiras, como Recife e Salvador, a elevação do nível do mar também saliniza poços e redes de esgoto, corroendo tubulações e inviabilizando seu uso. Sem investimentos em infraestrutura resiliente, esses problemas só tendem a piorar.

Secas e ondas de calor: o outro lado da moeda

Enquanto algumas regiões sofrem com excesso de água, outras enfrentam escassez crítica. No nordeste brasileiro, as secas prolongadas – intensificadas pelo aquecimento global – secam poços e açudes, obrigando populações a consumirem água de qualidade duvidosa.

O resultado? Doenças como diarreia, hepatite A e cólera, que deveriam ser evitadas com saneamento adequado, voltam a assombrar comunidades vulneráveis.  

As ondas de calor também sobrecarregam sistemas de abastecimento. Em São Paulo, por exemplo, o consumo de água aumenta até 30% durante verões extremos, pressionando reservatórios já debilitados.

Para piorar, a falta de coleta e tratamento de esgoto em áreas periféricas cria focos de contaminação que se espalham rapidamente em condições de calor intenso.

Soluções: como adaptar o saneamento às mudanças climáticas

A boa notícia é que existem estratégias para mitigar esses impactos. A primeira delas é investir em infraestrutura verde, como jardins de chuva e telhados verdes, que absorvem água pluvial e reduzem o risco de enchentes.

Outra frente é a modernização das estações de tratamento, com tecnologias que permitam reutilizar água e resistir a variações climáticas bruscas.

Além disso, políticas públicas precisam priorizar o saneamento básico universal. O Marco Legal do Saneamento (Lei 14.026/2020) é um passo importante, mas sua implementação precisa acelerar, especialmente em regiões de baixo IDH.

Por fim, a conscientização da população sobre o uso racional da água e a importância do esgoto tratado é fundamental – afinal, combater as mudanças climáticas exige ação coletiva.

O que aprendemos até aqui

As mudanças climáticas não são um problema distante: elas já estão batendo à nossa porta, e o saneamento básico é uma das primeiras vítimas. Garantir acesso à água potável e esgoto tratado em um cenário de clima instável requer planejamento, investimento e inovação.

Como cidadãos, devemos nos preocupar com as políticas públicas eficazes, e principalmente, as não eficazes. Adotar hábitos mais sustentáveis e lembrar que cuidar do saneamento é cuidar da nossa própria sobrevivência.


Fontes:

IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
IPCC AR6 Synthesis Report – Chapter on Water

Dados Atualizados de Saneamento Básico (2024)
Portal SNIS – Ministério do Desenvolvimento Regional

Compartilhe esse post:

Posts Relacionados